18 de julho de 2022

Então e agora? Passados tantos anos voltamos "à vida". Depois de mais uns concertos, encontros e desencontros posso dizer que ainda por cá andamos. Eu e os Xutos. Novas realidades, novas canções, novos fados, novas histórias. E muitas ficaram por contar neste interregno. Já dizia a canção: "ele há coisas a acabar, mas há tantas a começar...". Sim, porque há SEMPRE uma letra do Tim que faz sentido em cada etapa, desafio ou vivência em cada um de nós. Até parece que ele está a cantar e a exprimir exatamente aquilo que pensamos. Aquilo que ele diz adequa-se na perfeição a cada um de nós. Pois... isso é a essência dos Xutos. Já alguém dizia que eles falam dos problemas, dos amores e desamores dos jovens na sua mesma linguagem.

Agora está aí numa nova realidade. Seremos SEMPRE Xutos. Na verdade, um pouco menos. E na palavra e opinião de muitos, muito menos. O lado esquerdo do palco está pobre. Falta tudo. E mesmo para aqueles que há muitos anos falavam do alto das suas sabedorias e convicções que aquela guitarra tinha pouca expressão, desafio-vos a assistir hoje a um concerto. Vão-se aperceber que não é só a presença que lá faz falta. É também a guitarra, os gestos, os passos, os sorrisos, a alegria, o caminhar desde a esquerda até à direita e depois até ao centro e lá atrás a cumprimentar o Kalú, e tudo isto enquanto faz uns ritmos "esquisitos" que só quem não percebe pode ficar indiferente.

Faz-nos falta "A ALMA". Porque há mesmo pessoas insubstituíveis.

21 de dezembro de 2004

PASSATEMPO XUTOS

Agora é tempo de puxar pela imaginação. Este é um apelo à vossa criatividade.
O desafio é este.

Imagina que vais trocar umas palavrinhas com o GRANDE Zé Pedro. O que é que lhe vais perguntar? O que gostarias de saber acerca da sua vida profissional e, quiçá, pessoal? Relembras alguma história antiga, algum encontro no backstage ou um breve diálogo? No final, de todos esses encontros o que ficou por perguntar?
Envia-me um e-mail com três questões que gostarias de colocar ao Zé Pedro.

17 de novembro de 2004

Oh yes, ainda vai mexendo...

Afinal o homem ainda está vivo. O mestre anúncia novo disco.

"Em 15 anos Jorge Palma lança dois discos de originais. E a grande novidade é mesmo o segundo álbum de originais de Jorge Palma. Deu-lhe o nome de “Norte” e os portugueses vão poder ouvi-lo a partir do próximo dia 22, já de si um grande dia para as edições discográficas. É que nesta data esperam-se o novo discos dos U2, a colectânea de êxitos de Kylie Minogue e a caixa de inéditos dos Nirvana. Junta-se a esta lista o “Norte” de Jorge Palma, um álbum com 13 temas e mais duas faixas escondidas, foi produzido, gravado e misturado por Mário Barreiros. No disco Palma canta um poema de Al Berto, “Acordar Tarde”, outros dois de Carlos Tê, sendo os restantes de sua inteira autoria."

in www.rtp.pt

E agora?

Está quase a acabar a tournée 2004 dos Xutos. Só falta um concerto que está marcado para dia 27 de Novembro em Portel. Que me recorde é a primeira vez que lá vão e quem está a pensar lá ir, que se prepare para o frio. Como se costuma lá dizer "vai estar rijeza".

E agora? As comemorações já foram, a tournée para lá vai, o disco novo já não está assim tão novo, uma vez que já foi altamente rodado ao vivo durante estes últimos meses (para mal dos meus pecados até foi tocado "demais" nos concertos do Atlântico).

Julgo ser altura de encostar momentaneamente as botas. Sim, porque isto de aparecer na televisão muitas vezes, sair em entrevistas, reportagens, especiais e afins nos jornais e passar vezes sem conta na RFM nunca fez bem a ninguém. Além do mais os Xutos não precisam e nem devem estar tão expostos durante tanto tempo. Faz parte do bom senso para ajudar na credibilidade da imagem.

Será então altura de "desencalhar" o DVD (deve sair lá para o Natal) e apostar noutras formas de consolidar as comemorações destes 25 anos. Para já vai sair uma edição limitada a mil cópias numeradas de 25 singles que vai estar primeiramente à venda no site oficial.

Depois, só a vontade dos mesmos poderá decidir se vai ou não haver mais surpresas...

P.S. Todos a Portel!

12 de agosto de 2004

Xutos em Olhão

Foi porreiro o concerto. Continuaram a "sacrificar" algumas boas em detrimento das novas... mas não foi nada mau. Em relação à concentração das motas em Faro, tiraram o Jogo do Empurra e a Morte Lenta. A Negras Como a Noite já havia saído também, tal como a Avé Maria. Continuo sem perceber o que lá faz o I Love To Play... é uma velha questão, esta dos alinhamentos...

De qualquer forma, a noite valeu, sem dúvida pelo 1.º de Agosto. Já tinha saudades...

6 de agosto de 2004

"O grupo começou com um anúncio de jornal"

In Se7e, 06 de Maio de 1987
Texto de António Macedo

Já foram quatro, apenas três, hoje são cinco. Gravaram «Circo de Feras», venderam mais de dez mil discos e fizeram, em três meses, mais de 30 concertos. Chamam-se Xutos e Pontapés, existem desde 1978 e começaram a já longa carreira com um anúncio de jornal: Zé Pedro e Zé Leonel publicaram-no; Kalu e Tim responderam.

E pronto: para já, para já, atingiram o cume de uma carreira iniciada vai para nove anos em instalações que custavam qualquer coisa como duzentos escudos à hora. «Os amplificadores para trabalharem tinham de levar alguns pontapés de vez em quando; a bateria quase não tinha peles; enfim, os outros instrumentos eram nossos.» Mesmo à «beirinha» de cumprirem o seu 31.° concerto da digressão «Circo de Feras», os Xutos e Pontapés recordam, sorridentes, esses tempos da «baliza às costas». Hoje são uma das poucas bandas-sucesso que resistiu à «vida e morte do rock português» dos últimos dez anos. É disso que falamos. Zé Pedro já conhecia Zé Leonel. Tocava guitarra, o seu amigo cantava, não havia muito regressara de um grande Festival Internacional Punk e entendia que essa «música rebelde» também podia ter expressão em Portugal.
Um anúncio no jornal: «Baterista e baixista precisam-se para grupo punk». Responderem dezenas, Kalu e Tim são aceites, nascem os Xutos e Pontapés. Quarteto nesta primeira fase, primeiro ensaio a 20 de Dezembro de 1978. «Na Senófila, aqui em Lisboa», recorda Zé Pedro. Instalações que os albergaram durante qualquer coisa como três anos. Já se disse: pagaram cerca de 200 escudos por hora de ensaio, não tinham as melhores condições de trabalho, a maior parte do material ia de casa, levado pelos músicos. Fala, Zé Pedro! «0lha, esta primeira fase do grupo era, assim, uma espécie de brincadeira: funcionava apenas a nossa vontade de tocar, de estar em cima de um palco, gozávamos todas as situações e não tínhamos quaisquer preocupações quanto ao tempo de vida do nosso projecto — um dia, um mês, um ano...» Pois, hoje é diferente. Lá iremos, em tempo, com tempo. Nesse tempo, os Xutos eram esses que já foram recenseados: Zé Pedro e Zé Leonel (os da ideia, os do anuncio), Kalu e Tim (os que responderam e concordaram). Assim permaneceram até ao início de 1981 com muitas actuações ao vivo e com uma primeira apresentação no Pavilhão do Belenenses, «abrindo» para Wilko Johnson e os seus Solid Senders em 23 de Fevereiro.
Sai Zé Leonel, entra Francis Nunes. Estamos em Fevereiro de 1981, os músicos do grupo tinham a sua carteira profissional desde há um ano, o concerto com os Solid Senders já lá ia, a banda iniciava a sua segunda etapa numa altura em que o chamado «rock português» jogava os seus trunfos principais.
«Passamos ao lado disso tudo, não gravamos para nenhuma grande editora e isso foi importante para a nossa sobrevivência.» Hoje, é possível fazer história, analisar os passos do passado, fazer o inventário de vitórias e fracassos. É o que faz, para o «Se7e», Zé Pedro: «Habituámo-nos a contar apenas connosco, a ser auto-suficientes. Sempre entendemos que não devíamos gravar apenas por gravar, mas que as nossas posições no mercado deviam ser conquistadas. A nossa batalha era outra e só então começava. Acreditávamos em nós.» Esta é a segunda fase dos Xutos e Pontapés. Aquela que corresponde à permanência de Francis Nunes no seio do grupo. Até Maio de 1983 os Xutos gravaram os dois primeiros singles e o primeiro álbum para a editora Rotação, mas, para além disso tudo, define o seu som, marca o seu espaço...
Fica publicamente reconhecida a importância de Francis Nunes, músico que tocava no conjunto de baile em que o baterista Kalu fazia os seus exercícios: «Foi ele quem ajudou a limar o nosso som, a defini-lo. É um óptimo músico, com ideias muito próprias, capaz até de trabalhar em produções. Foi ele quem contribuiu decisivamente para uma maior elaboração das novas composições, dando-lhes voltas a que não estavam habituados. Os Xutos e Pontapés deixavam a fase das «três notas mais refará e está feita uma canção», entravam em novos esquemas de composição. Bom-dia!
Entre Maio e Novembro de 1983 os Xutos e Pontapés enfrentam o «grande desafio: a editora a que estavam vinculados (a Rotação) faliu, Francis Nunes entendia que era o momento próprio de «dar o salto» para uma grande editora, Zé Pedro, Tim e Kalu entendiam que não. É a ruptura. Francis Nunes sai dos Xutos (transferindo-se para os UHF) e a banda vive, durante alguns meses como trio. «Trata-se do grande desafio», recorda Zé Pedro. «Começámos tudo do zero, embora com redobrada energia e já não por brincadeira, como no início. Acreditávamos em nós e, subitamente, demo-nos conta que muito mais gente tinha a mesma crença. Fizemos montes de concertos em montes de pequenos clubes. Era o que queríamos: batalhar esse circuito, conquistar cada vez mais público...» Zé Pedro não esconde que essa terá sido uma fase determinante na vida da formação: «aquela em que todos sentimos ser possível prosseguir, marginais ou não, mas capazes de conquistar, a pulso e à nossa própria custa, um lugar, um espaço, na música moderna portuguesa. Está conquistada, vamos lá ver no que tudo isto irá dar.» Com a entrada do guitarrista João Cabeleira em Novembro de 1983 e, mais tarde, do saxofonista Gui (que já tocara com o grupo como convidado), os Xutos e Pontapés alcançam a estabilidade. É a quarta época da vida da banda, aquela que ainda perdura, aquela de onde sairá apenas para a «morte». Zé Pedro garante-o: «Se algum de nós saísse nesta altura era o fim dos Xutos e Pontapés." Porquê? «Porque os Xutos e Pontapés somos nós cinco, sem líder, trabalhando sempre em conjunto e por consenso. Não há o menor atrito pessoal ou profissional entre nós. Somos os Xutos e Pontapés e, por enquanto, assim continuaremos... Pois. O dia de amanhã ninguém o conhece. «Atingimos um ponto grande na nossa carreira, pensamos que podemos ir mais longe mas, atenção, quem chegar alto como nós arrisca-se a uma queda maior. A única coisa que eu queria é que tivéssemos consciência do momento ideal para parar. Acho que não devemos continuar se começarmos a mastigar. A partir de agora tem de ser sempre para a frente e a subir...»

Não à campanha eleitoral
«Como não concordamos com a realização destas eleições, em princípio não iremos colaborar em qualquer campanha.» Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés, em «discurso directo». Pela primeira vez desde há alguns anos, o grupo não irá colaborar na campanha de qualquer partido. Não que o grupo esteja arrependido de anteriores envolvimentos; apenas este ano é diferente. Diferente porque o grupo, como disse Zé Pedro, não concorda com a realização de eleições; diferente porque os Xutos acham que não vai ser possível reunir as condições de trabalho que tiveram no ano passado a convite do PS: «fizemos apenas cinco concertos, mas em festas durante as quais não havia discursos políticos. E isso, para nós, é muito importante.»
Tocaram sempre nos arredores de Lisboa e recusaram apresentar-se em festas da campanha presidencial de Freitas do Amaral: «ele pagava mais do que qualquer outro, mas tínhamos decidido só trabalhar para partidos ou candidaturas do PS, para a esquerda, e não nos deixamos tentar pelos elevados cachets que nos foram oferecidos.» Este ano, porém, os Xutos estão indisponíveis...

De Madrid a Lisboa.
31 concertos em três meses
Um palco com 20 metros de frente e 10 de fundo acolhe sexta-feira os Xutos & Pontapés no Pavilhão de «Os Belenenses», em Lisboa, para o concerto final da primeira fase da digressão «Circo de Feras». O início desta digressão dos Xutos & Pontapés coincidiu com o lançamento do álbum homónimo, o primeiro gravado pelo grupo para uma «grande editora». Estávamos a 5 de Fevereiro e o grupo actuava, então, na Sala Templo del Gato, em Madrid. Ao longo destes três meses, os Xutos realizaram 31 concertos e já na semana da «apoteose», no Restelo, Zé Pedro, habitual porta-voz do grupo, exprime uma enorme satisfação: «nunca tínhamos tocado tanto, para tanta gente em tão curto espaço de tempo». No Restelo, para termo da primeira fase da digressão, os Xutos & Pontapés vão fazer um espectáculo de mais de duas horas, portanto relativamente mais longo do que todos os outros. O palco de vinte por dez metros terá um cenário especial concebido pelo baterista Kalu e a banda irá dispor da «melhor aparelhagem possível»: qualquer coisa como dez mil watts de som. Pela primeira vez os três guitarristas dos Xutos podem utilizar transístores o que facilitara a movimentação do palco. Carlos Maria Trindade, produtor do álbum «Circo de Feras» actua como convidado em dois temas: justamente no «Circo...» e em «Contentores». Segundo Zé Pedro, «todas as canções do álbum fazem parte do roteiro do concerto o qual não deixa de ser, fundamentalmente, uma viagem pelo nosso reportório de oito anos de carreira». Temas nunca gravados anteriormente e um instrumental inédito foram, também, seleccionados para a «grande apresentação» de Lisboa a qual deve ser presenciada por cerca de oito mil pessoas.


Quem são eles?
Já foram um trio, já constituiriam um quarteto. Hoje são o quinteto Xutos e Pontapés. Um por um são assim:Zé Pedro, guitarrista — É o mais idoso dos Xutos e Pontapés. Tem 30 anos de idade, guitarrista, autodidacta. O grupo começou, muito por «culpa» sua quando o primeiro anúncio foi publicado nos jornais.Tim, baixo — Tem 26 anos de idade, está nos Xutos e Pontapés desde o início. Quer dizer: era o único baixote que podia participar no concurso promovido por Zé Pedro e por Zé Leonel nos finais de 78. Estudou no Conservatório.Kalu, bateria — Tem 28 anos de idade e é gerente de uma fábrica de cortiça. Por outras palavras: Trata-se do único músico não profissional dos Xutos e Pontapés embora faça parte da banda desde a sua fundação. Tocava em conjuntos de baile antes de se juntar aos Xutos.João Cabeleira — Tem 24 anos de idade. Juntou-se aos Xutos e Pontapés depois da «morte» da Vodka Laranja e isto numa altura em que o grupo já trabalhava bastante com este guitarrista.Gui, saxofone — 29 anos. Antes de se juntar aos Xutos, pertencia aos On Off e aos Casino Twist. Começou por ser músico convidado dos Xutos e Pontapés, mas não tardou a alcançar o estatuto de músico principal.

3 de agosto de 2004

"Somos um bom negócio"

In Se7e, 04 de Fevereiro de 1987
Texto de Cláudia Lobo


Amanhã, quinta-feira, começa a «tournée» ibérica dos Xutos e Pontapés e é posto à venda o novo álbum da banda, «Circo de Feras», cuja primeira edição de três mil discos já esta esgotada. O «Se7e» fez, com os Xutos e Pontapés, uma incursão na noite lisboeta.

São seis e meia da tarde de quinta-feira, estamos junto da estação dos comboios de Carcavelos. Os Xutos e Pontapés — Tim, Zé Pedro, Kalu, João Cabeleira e Gui — chegaram há pouco de Lisboa. Descemos para uma garagem minúscula, toda forrada de cortiça. Posters dos Xutos, Talking Heads, GNR, Tina Turner e Lord of the New Church escondem o castanho das paredes. Num canto, há um bar à medida daquela sala pequena, noutro canto está a bateria. Espalhados pelo pouco espaço que resta, vêem-se fios, caixas, amplificadores e colunas. «Isto até parece a nossa casinha», diz Zé Pedro a rir. Os Xutos encontraram-se para ensaiarem o seu disco novo, «Circo de Feras», e algumas composições antigas que vão interpretar durante uma tournée ibérica, a partir de amanhã, em Madrid. Arrancam com «Desemprego», a música preferida de Tim. Todos têm atitudes e maneiras diferentes de estar: João não tira os olhos da guitarra, Zé Pedro parece não ligar a nada. Tim tem um ar divertido enquanto canta, Gui e Kalu olham muito um para o outro — há que saber quando entram os coros. «O nosso objectivo principal é agradar às pessoas.» Duas horas depois, o ensaio termina. Há que voltar depressa para Lisboa. À noite, os Xutos e Pontapés vão à «Quinta do Dois». Mas, antes da partida, ainda arranjam tempo para as fotografias — juntam-se no meio da sala e Gui pergunta: «As fotos são a cores?» «Não, são a preto e branco», responde o fotógrafo. E Gui explica — «É que tenho uma camisola azul...» Os outros estão todos vestidos de preto...
Na viagem, fala-se de outras viagens — como a Ida a Barcelona, em Dezembro passado. «No primeiro concerto, estavam 60 pessoas. Começámos a tocar às 2 da manhã e só parámos às 5, porque os gajos não nos largavam», explica Tim. «No dia seguinte a sala estava cheia: as 60 pessoas que estiveram no espectáculo do dia anterior convenceram os amigos a irem ver-nos...» Aliás, com os Xutos, este é um «fenómeno» habitual. Zé Pedro: «Houve sempre uma série de pessoas que tiveram de convencer os amigos de que nos éramos mesmo muito bons. E os amigos, que iam à espera de ver uns tipos com as guitarras desafinadas, cada um a tocar para o seu lado, ouviram três letras que lhes tocaram como o caraças e à quarta canção até bateram o pé. As pessoas que nos defendiam tiveram que o fazer com raiva, porque não éramos conhecidos. Até exageraram nas apreciações...» A verdade é que os Xutos foram conquistando o público a pulso, devagar e lentamente, e hoje têm uma «legião» de fiéis admiradores que não falham um espectáculo. E até já existe um clube de fãs: «Desde há muito tempo que recebemos cartas e não temos paciência para responder, nem para juntar tudo e fazer um arquivo», responde Zé Pedro. «Quando o Victor Silva, o nosso manager, começou a trabalhar connosco, montou um escritório onde recebe as cartas: é lá a sede do clube de fãs. Ele envia fotografias, t-shirts e discos a quem lhe pede.» Poucos músicos portugueses se podem gabar de ter uma «organização de fãs: «É natural, as pessoas habituaram-se a agarrarem-se a nós», continua Zé Pedro. «Eu gostava muito de grupos portugueses como o dos Tantra — o meu ídolo era o Filipe Mendes — e até tinha gostado de falar com eles, de usar uma t-shirt com o retrato deles...» A conversa deriva para a questão da imagem. «Fizemos um teledisco com o tema “Sai P'ra Rua”. Se temos e vivemos uma imagem, diz Zé Pedro, gostaríamos de a ver, tal como a sentimos, projectada num trabalho completo.» Fala-se de visual e os Xutos dizem não se preocupar com isso. «Não sentimos nenhuma responsabilidade perante o público, mas também não conseguiríamos, por exemplo, vestir-nos de branco — as nossas coisas têm que “bater” cá dentro... Acima de tudo, temos que ser verdadeiros connosco: a partir daí, não podemos perder tempo a pensar se as pessoas gostam ou não.» Janta-se numa cervejaria, bifes e bacalhau-à-brás. A conversa vai animada, fala-se do duplo ao vivo que, afinal, nunca chegou a sair: «O disco estava gravado mas a editora, a “Dansa do Som”, com a desculpa de que o dono se encontrava em Londres, nunca mais fazia sair o disco. O processo complicou-se e chegámos a uma situação em que a banda queria andar para a frente e a editora puxava para trás.» Situação de ruptura, então, com a “Dansa do Som”? «Esperamos que venham falar connosco, como deve ser, com os papéis na mão. Ainda nem sequer recebemos os royalties dos discos que gravámos para essa editora...» Com “Circo de Feras” tudo se passou de uma maneira diferente «Neste disco, conseguimos estabelecer e cumprir um plano de produção, diz Tim. «Não desejamos “embandeirar em arco” — não é esse o nosso papel — mas, no fim de contas, queremos medir a eficácia do processo, porque, agora, sabemos o que falhou e o que correu bem.» O que está a correr realmente bem é a saída do disco: uma semana antes de “Circo de Feras” ser posto à venda, os três mil exemplares fabricados não chegavam já para responder aos pedidos das discotecas. E a semana passada, o tema de abertura do álbum, «Contentores», subiu ao sexto lugar do top da Rádio Cidade. «Preferimos trabalhar assim, pela medida certa, sem investimentos de milhões. Queremos provar a toda a gente que se pode fazer uma coisa dos diabos com pouco dinheiro. Sempre tivemos a sensação de que éramos um bom negócio!» Toma-se café. João Cabeleira continua pouco falador — «Ó João, vê lá se te calas que já não te posso ouvir», diz alguém em tom de brincadeira. Zé Pedro e Kalu riem-se. Tim discorre sobre o desafio que é trabalhar para uma multinacional, editar um vídeo, ou aceitar tantos espectáculos: «Queremos ver até onde podemos ir. Porque havíamos de dizer que não, antes de experimentarmos? O sucesso não assusta os Xutos que não têm medo de perder a “imagem de marca” de “banda marginal”: «Não tem valor nenhum ser marginal e lutar por coisas que, depois, não resultam, que saem frustradas. Mais vale provar que se consegue fazer bem: não podemos andar por aí a dizer que somos bons mas é em casa, que somos bons mas é na nossa escola, na nossa rua...»
É quase 1 hora da madrugada. Bairro Alto, pois claro, para não fugir ao roteiro nocturno quase diário dos Xutos e Pontapés. Chegámos a esquina da Travessa do Cara com a Rua do Diário de Noticias: é uma casa de matraquilhos. Jogam com o Botas e o Paulo Morrison — que deram uma «mãozinha» no disco — falam alto, gritam, estão entusiasmados com a partida.
«Queremos arranjar uma mesa de matraquilhos para jogarmos durante o tournée...», diz Kalu. E riem-se com a ideia de jogarem em cima do palco, antes do concerto começar. Ali, naquele bairro, jogam no seu terreno. Conhecem quase toda a gente que por ali passa, sabem os cantos à casa e as noites. Saímos dali para o «Gingão», uma das tascas típicas do Bairro Alto, frequentada por «habituées» da noite: meninas de mini-saia de cabedal e cabelos em pé convivem «alegremente» com os moradores da zona. Repete-se a cena: os Xutos entram, cumprimentam meio mundo. O sr. Aníbal, dono do «Gingão», conhece-os bem: vão lá quase todas as noites, desde que o «Bolívar» mudou de proprietário. E quando saiu o ultimo «single» da banda, o sr. Aníbal até dava dinheiro ao filho para por o disco a tocar na velha «juke-box»...O único elemento dos Xutos e Pontapés que tem dupla profissão é o Kalu, que trabalha numa fábrica de cortiça. Os outros já «largaram» os estudos e os empregos. «Há sempre uma altura em que a gente toma a decisão de sair para a rua, de arriscar. Se não der, paciência... Temos de acreditar em nós próprios — se eu não acreditar em mim, quem é que acredita? Já passa das 2 da manhã, o «Gingão» vai fechar. Há que continuar a noite. Os Xutos partem, então, em direcção ao Cais do Sodré, vão para o «Tokyo». Lembro-me do que Zé Pedro dissera, pouco antes: «Queremos é viver isto assim, depressa: festas, champanhe, coisa e tal...» Passaram cinco anos sobre a edição do primeiro single dos Xutos & Pontapés, «Sémen». Alguém os viu passar?
O culto — Dificilmente se descobre em Portugal um grupo de rock — ou um cantor de musica ligeira ou um qualquer músico ou uma figura pública no sentido mais lato — que tenha uma legião de seguidores, em crescimento, tão segura e tão incondicional como a dos Xutos & Pontapés. Escrevi, e mantenho, que eles me parecem ser a única banda de culto portuguesa. Pela simples razão que são e pensam aquilo que cantam. E nem sequer se esforçam para mudar a forma, para modelar as ideias e os «gritos de guerra». Antes de mais nada, os Xutos são uma emanação de uma certa juventude (sub)urbana, potencialmente marginal, repetidamente marginalizada. São, nessa medida, um grupo de geração, despreocupado em relação à hipótese de agradar a gregos e troianos. Como poucos, eles definem o público que querem, definindo em cada canção que não se dirigem aos tecnocratas com hipóteses de virar JEEP'S nem aos estudantes-modelo nem aos pacifistas passivos nem aos meninos Benetton. Se vivêssemos na América, os Xutos seriam o exemplo acabado do grupo “downtown”, disposto (e destinado?) a não pintar cores garridas no que é cinzento e negro. Muitas vezes sujo e duro. Daí, o fenómeno da identificação, total e ingénua, importante para quem pode ver as suas palavras cantadas por um «gajo fixe» que faz parte de um grupo que não brinca. Pode argumentar-se que essa concisão acabara por corresponder a um círculo fechado, a um compartimento estanque, juvenil e mutante. Para já, a «seita» alarga-se, se tivermos em conta os primeiros números relativos a “Circo de Feras”. Sem que os Xutos façam a mínima cedência, o mais pequeno recuo relativamente à sua politica do «forte e (quase) feio». Culto, assim mesmo, na cidade que tantas vezes queremos ver só de um lado.
A música — Quem vier procurar a elegância na melodia ou o requinte da instrumentação, voltará a esbarrar na violência multiplicada das guitarras e da secção rítmica — não há um “rodriguinho” além da essência, não há um truque para tornar
“agradável” a audição de um único dos temas. Tudo nos Xutos & Pontapés — mesmo com os acertos eventuais da produção de Carlos Maria Trindade – é feito “sem anestesia”. E, nesse aspecto, “Circo de Feras” não é diferente nem novo. E só o som dos Xutos, forte e de adesão (ou repulsa) imediata. João Cabeleira, um dos guitarristas, foge aqui e ali à marcação mas não se perde em «flores». E o saxofone de Gui é só um reforço à electricidade pouco estática. Por isso, por muitos discos que os Xutos façam, a sua verdade é o palco. Por isso, “Circo de Feras” e só um meio para o fim — o conhecimento das canções. A música, às vezes, também é isto: cortar a direito.
O texto — Quando se escreveu que «a cantiga é uma arma», o contexto era outro. Mas o conceito serve aos Xutos que, na prática, cantam como falam. Outra vez sem «nuances». Dos títulos – «Contentores», «Desemprego», «Pensão», «Vida Malvada», «Sai p’ra Rua» – ao primarismo de cada refrão, joga-se aqui com a verdade destes músicos e de quem os apoia. Não há experiências, nem beleza, nem poesia – há um retrato radical da falta de horizontes, de uma qualquer ansiedade que tem a ver, também, com oportunidades perdidas... Quem os segue, sente-os como porta-vozes. Quem não os sente, pode pensar que repetem infinitamente a mesma canção. Porque os textos que os Xutos & Pontapés cantam não são construídos nem montados — são apenas desabafos, atitudes, gritos e acontecimentos de todos os dias. Ou, se se quiser, são textos de uma certa resistência.
A capa — Negro sobre azul. Se fosse ouro, era mentira. Mas Álvaro Rosendo não cairia num erros desses. Com o cenário natural da cidade, os Xutos estão em casa: na noite e na rua.
A obra — Começa aqui o novo ciclo dos Xutos & Pontapés, gravados e publicados e divulgados por uma editora poderosa. Até agora, os quatro singles e os dois álbuns que assinaram não chegavam, muitas vezes, a quem os queria, tornaram-se (também eles) objectos de culto. A partir daqui, vamos saber até onde pode ir este grupo, quanto lhe rende e quanto lhe custa esta mudança de estatuto, tantas vezes fatal. Uma coisa é certa: se mudarem de direcção, morrerão rapidamente. Mas, depois de ouvir «Circo de Feras», a hipótese parece-me cada vez mais académica. Cinco anos depois de “Sémen”, os Xutos & Pontapés estão, de pé, no mesmo sítio. A juntar mais um disco inteiro à sua “obra ao negro”.

2 de agosto de 2004

"Remar aos Xutos e Pontapés"

In se7e, 01 de Agosto de 1984
Texto de Rui Pego

Depois de uma pausa de dois anos, os Xutos e Pontapés voltam a subir o rio do êxito. “Remar, Remar” é o título do single. A proposta do grupo continua a ser “o gozo total”.

A coberto de uma prosaica partida de matraquilhos, Zé Pedro negoceia com Pedro Ayres o abandono da clandestinidade. O desafio salda-se por um empate comprometedor para ambas as partes: ali mesmo na tasca do António, ao Bairro Alto, os Xutos e Pontapés quebram um vinílico jejum de dois anos. A selar o contrato, um single: «Remar, remar». Para ajudar a nova maré. «A nossa proposta continua a ser o gozo total», dizem os dois guerrilheiros do rock.«Estávamos decididos a gravar por nossa conta e risco», asseguram os Xutos, emboscados atrás de violentos copos de cerveja ao balcão da Brasileira do Chiado.Há dois anos, sem qualquer contacto com o negócio da música, defendem a inversão de sentido nas relações entre músicos e editores: «Devem ser as editoras a procurar as bandas e a lança-las para um público específico...» Cassete na mão, a bater à porta das companhias de discos tem sido a prática repetida de sucessivas levas de músicos. Transportam quase sempre propostas difíceis de vender e esbarram, nalguns casos, com editores presos aos indicadores de vendagem e completamente divorciados das outras realidades, que se vivem para lá das vidraças do gabinete. «Entre Setembro de 1983 e Fevereiro de 84, tocámos todos os fins-de-semana. Num só mês fizemos 11 concertos em Lisboa e arredores. Não me lembro de ver entre a assistência – é Tim que o afirma – nenhum editor». Lançados no mercado em 1981 por António Sérgio, que liderava na altura o projecto «Rotação» (uma etiqueta encaixada nas deficientes estruturas da desaparecida «Rossil»), os Xutos e Pontapés publicaram até agora dois singles e um álbum, que atingiram números de vendas significativos para o contingentado mercado português: «Sémen», o single de estreia, vendeu mais de 3000 cópias em 1981; os mesmos números foram atingidos, um ano depois, pelo single «Toca e Foge» e pelo LP «Leo». Cifras alcançadas apenas em Lisboa e arredores. À província o material gravado pela banda chegou através dos circuitos paralelos... Zé Pedro: «Um amigo meu comprou a cassete do “Leo”, as 4 da manhã, a caminho do Algarve.» Ao virar a agulha para a música popular portuguesa (a do bombo e dos ferrinhos) a indústria deixava cair um projecto que provou as suas virtudes. Incompreensão? Tim: «Não é verdade que tivéssemos sido incompreendidos. Também não estávamos interessados em tornarmo-nos “entendíveis”. Só temos a agradecer às pessoas. Obrigado, pessoas!»Os equívocos da euforia roquista foram construídos em cima de uma turva (sempre denunciada, de resto) política editorial seguida entusiasticamente por algumas discográficas pouco escrupulosas que acabariam por cair nas armadilhas que teceram a arrastar consigo algumas dezenas de jovens músicos, generosos e pouco esclarecidos. Tim: «Nunca acreditei em bandas que se formam sem apoios e visem conquistar o público... Hoje os projectos são personalizados, as propostas são mais sérias e veiculam valores partilhados por muita gente.» Valores que nem eles próprios sabem definir com exactidão. Comuns a algumas bandas da nova música moderna e a um público específico que se agita numa saudável cumplicidade, à volta dos seus preferidos. E esta nova atitude que transforma o acto isolado de um concerto na intervenção consciente, solidificadora das bases de um movimento que se agiganta pelos seus próprios meios. Que não depende, vive para lá das relações dos seus efémeros protagonistas com os circuitos de comercialização e divulgação da música. «Há hoje um público disponível e interessado em ver o que está a fazer-se. Pode já falar-se de um “movimento”. Zé Pedro justifica a ousadia da afirmação: «O público da música moderna e constituído por gente muito nova, que criou as suas próprias defesas contra a cultura dominante e deixou conscientemente de depender dos padrões que os media procuram impor. Para a voz dos Xutos (Tim), o movimento de que agora se fala, nunca ruiu: «Os miúdos que compravam os nossos discos em 1981, nunca desistiram de vir a cantar, também eles, as suas próprias ideias.» E os novos rockers comecam a rasgar boas perspectivas para saltarem da periferia para o centro de uma crise que o mercado dos discos persiste em reflectir. Ainda Tim: «Ao nível da gravação de discos há, boas perspectivas. O que é precise é não se apontar para o disco de prata. Esta música tem um público específico...» Que é urgente servir.«Não queremos que as editoras apostem muito em nós. Apenas o essencial», diz Zé Pedro. Com os «selos» de duas editoras estão já no mercado outras tantas preciosidades da nova música: Sétima Legião e Rádio Macau. A nova música moderna (o conceito não é limitado no tempo) começa a ganhar, decisivamente, fôlego de alternativa: GNR e Xutos e Pontapés exibem só novas produções; os Croix Sainte preparam-se para gravar o álbum de estreia; outros contratos começam a ser negociados. Neste assalto ao mercado, a luta é travada com armas desiguais. Tim: «A nossa única vantagem resulta da experiência que trazemos do passado. Se estivéssemos a arrancar agora depararíamos com os mesmos problemas. Experimentamos, de resto as mesmas dificuldades de divulgação.» Espaço para desenvolver e aplicar as capacidades é o tom geral das reivindicações dos novos músicos; furar o muro de impedimentos e desinteresse que rodeia a arte neste país, é a primeira intenção. Será possível ter esperança? Restam dúvidas. Muitas. Daí, talvez, a angústia de que se alimentam alguns projectos. Como o dos Xutos... Tim: «Não posso recusar que a nossa música transporta uma certa angústia.» A estética da depressão? Zé Pedro: «A nível estético, o único dado seguro é a simplicidade. Tentamos fazer as coisas com simplicidade, utilizando os meios mais eficazes.» Para lá da música dos Xutos, descobre-se a atitude: a liberdade (levada às últimas consequências) como única e derradeira resposta às estruturas repressivas da sociedade.«O poder é o poder. É uma coisa à parte, que não tem relação com nada nem com ninguém.» Para os Xutos e Pontapés, esta afirmação define apenas um comportamento, que não é, sequer, alternativo. Tim: «Não nos compete fornecer alternativas de qualquer natureza, mas apenas contestar o que está errado.» Talvez por isso, «gostamos muito mais das oposições...» Tim, quer explicar: «O sistema é demasiado simpático. Não se fazem opções consequentes de oposição ao poder para não quebrar a harmonia. Portugal é um país familiar. Às vezes é preciso partir uns pratos...» Muito críticos em relação à organização familiar tradicional, os Xutos não rejeitam, liminarmente, aquele tipo de organização social: «A família, enquanto “clã protector”, é importante, mas leva quase sempre longe demais a sua intervenção). É esta vocação que a torna altamente repressiva." Para Zé Pedro, que assegura nunca ter experimentado confrontos graves com a família, «é urgente reformular conceitos. A família ideal não é repressora, não impõe padrões. Procura, pelo contrário, incentivar e alimentar as tendências manifestadas pelos seus membros». É, talvez, esta «rebeldia» que arrasta atrás da banda uma legião de incondicionais seguidores. Tim: «Não sei se é uma legião, mas há gente que nos apoia e que não exige de nos qualquer compromisso. Respeitamos muito quem nos segue, mas a nossa relação é exclusivamente com a música. Declinamos qualquer responsabilidade ao nível da imagem.»Também rejeitam o estatuto de líderes de franjas da juventude portuguesa. Adversários dos padrões impostos de cima, descomprometidos com o seu próprio público, eles vivem a plena liberdade. «A nossa proposta continua a ser o gozo total. Tocar nem sequer é uma necessidade monetária, e um vício.» Portadores de vivências diferenciadas, os quatro Xutos fazem convergir e deixam fluir no projecto da banda, as suas personalidades, evitando a todo o custo serem devorados pelo colectivo. «Reside aí a nossa grande vitalidade. Habituámo-nos a alimentar a nossa criatividade das experiências de cada um, das dúvidas de todos. A nossa música acaba por ser a síntese das várias referências de personalidades independentes.» Alimentar-se de dúvidas... «A nossa grande sinceridade é assumir cada concerto como se fosse o último.» Desorganizados (para os ortodoxos), talvez mesmo inconsequentes, acreditam em quase nada. Perderam até uma das poucas certezas que guardavam secretamente: pensávamos acabar quando o Kalú (baterista) fizesse 30 anos. Dávamos um concerto importante, fazíamos qualquer maluquice e pirávamo-nos para casa...» O último concerto parece estar cada vez mais longe. O vício é mais forte. Por agora!